segunda-feira, 20 de julho de 2015

História: Economia Mineradora

        A partir da União Ibérica, a situação de Portugal em relação à colônia brasileira alterou-se significativamente. A produção de açúcar caiu em mãos estrangeiras e, depois da expulsão dos holandeses, a concorrência internacional começou a pesar sobre a exclusividade de fornecimento do açúcar no mercado europeu. De modo semelhante, o tráfico escravo passou a ser controlado, em grande parte, pelos holandeses. 
     Uma das alternativas para alavancar a economia portuguesa, seria a pesquisa litorânea, propriamente dita, para verificar, não no litoral, mas nas vastas regiões interioranas, a existência de uma nova atividade econômica de resultados mais promissores para a metrópole.
        A notícia da descoberta de ouro e diamantes na colônia, tão esperada desde 1500, atraiu para a região das minas milhares de portugueses e colonos de outras regiões brasileiras, sobretudo do Nordeste. A população colonial passou de 300 mil habitantes no final do século XVII para 3,3 milhões no final do século XVIII.
       A ocupação e o povoamento da região mineradora, como o atual estado de Minas Gerais e, em seguida, Goiás e Mato Grosso, alteraram o caráter predominantemente rural da colonização, com o surgimento de diversas vilas e cidades.
        O desenvolvimento de um novo eixo econômico, deslocando as atividades principais da costa litorânea nordestina para o centro-sul, determinou a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763.
           Em 1700, cerca de trinta mil aventureiros se encontravam na região, organizados em grupos liderados por caudilhos que, na ausência de um poder constituído, disputavam o poder e o controle sobre as áreas produtoras. Entre 1707 e 1709, um conflito, a guerra dos Emboabas (estrangeiros). confrontou, de um lado, os paulistas e, do outro, os forasteiros que chegaram de Portugal e de outras regiões da colônia, aos milhares. A derrota dos paulistas retirou de São Paulo a exclusividade de exploração mineral, frustrando os paulistas que a desejavam, e os impulsionou em direção ao Mato Grosso e a Goiás onde, anos depois, encontraram novas jazidas auríferas.
           
  • Destacava-se a importância das vias terrestres para o transporte dos minerais preciosos e abastecimento.
  • Foi nas margens do Caminho Novo (Estrada Real) que a Zona da Mata Mineira se desenvolveu.
  • Para facilitar o escoamento para o porto mais próximo, o Rio de Janeiro torna-se a nova capital da Colônia em 1763.
  • O governo português montou uma nova estrutura de governo, uma dessas iniciativas foi a Intendência das Minas, responsável pela distribuição das datas e organização das vilas. 
  • Foi também providenciada uma guarda especial para evitar tensões sociais.
  • As datas eram distribuídas aos mineradores através do sistema de arremates.
  • As datas eram diferentes das sesmarias de tamanho menor, não tinham como objetivo a ocupação de território como no caso das sesmarias.
  • Através da concessão das datas, o minerador era obrigado a promover a extração de metais preciosos e dar uma parte a El Rei.
  • Quinto: Imposto de 20% sobre o material extraído.
  • Todo ouro deveria passar pelas Casas de Fundição.
  • Compromisso de se atingir o valor mínimo de 100 arrobas anuais.
  • A partir de 1763 o ouro começa a escassear e o teto de 100 arrobas anuais começa a não ser atingido.
  • DERRAMA: Cobrança violenta do quinto, no qual moradores teriam suas casas invadidas pelas autoridades que retirariam qualquer bem material que pudesse ajudar a compensar o valor das arrobas anuais.
  • Foi num dia, marcado para a derrama, que ocorre a Inconfidência Mineira.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Escolas Literárias - Barroco (1601 - 1768)

"A palavra barroco adquiriu valor pejorativo nos meios humanistas da Renascença, que delas se serviam para se referirem desdenhosamente aos lógicos escolásticos e aos seus argumentos e raciocínios, considerando-os absurdos e ridículos. Um argumento in baroco, por conseguinte, significava um argumento falso e tortuoso e, segundo Croce, a expressão teria sido transferida para o domínio das artes, para designar um estilo que aparecia também como falso e ridículo." SILVA, Vítor Manuel de Aguiar.

Também conhecida como Seiscentismo, o Barroco permaneceu durante séculos atrelada à concepção pejorativa de uma arte irregular, afetada, repleta de ornamentos abusivos que comprometiam a sobriedade e a linearidade das formas plásticas e da clareza linguística. O Barroco veio "deturpar"a sobriedade, a geometrização e a precisão da arte renascentista, segundo a visão estética profundamente iluminista do século XVIII.

Renascimento:                                                     
"Passo do Hordo" - Aleijadinho
  • Linear
  • Plano
  • Forma fechada
  • Pluralidade
  • Clareza
Barroco: 
  • Pictórico
  • Profundo
  • Forma aberta
  • Unidade
  • Obscuridade
"A virgem do rosário" - Caravaggio

A oposição estilo linear x pictórico é percebida facilmente ao se contrapor uma tela renascentista a uma barroca. A primeira apresenta linhas, contornos para as figuras; já a segunda elimina as linhas e demonstra o espaço por meio da oposição claro-escuro das figuras. Isso contribui também para a segunda categoria apresentada, pois os quadros da Renascença empregam tons mais pastéis, uma palheta mais eufemista na elaboração de planos mais claros, horizontais e chapados; já os do Barroco são dotados de uma profundidade, sugerem com maior intensidade uma perspectiva por meio de cores mais intensas e do contraste da luz. O Barroco transborda o espaço da tela, extravasa a cena com diagonais que apontam para fora do que foi apresentado, o que leva o espectador a vislumbrar o que não foi pintado. Na tela renascentista, é possível separar uma figura das demais, o que é inviável no trabalho barroco, tendo em vista a multiplicidade e interação de planos. Quanto ao item claridade absoluta x claridade relativa, é fácil notá-lo na luz igualmente distribuída em uma tela renascentista e na luminosidade parcialmente representada para cada plano ou compartimento da obra barroca.

A proximidade do Barroco com a religiosidade medieval explica-se pelo fato de que a Igreja, consciente da perda de muitos de seus fiéis com a Reforma Protestante de Lutero, desejava recuperar e resguardar seu "império". Dessa forma, as artes, tanto a literatura quanto a pintura, tornaram-se o grande foco da Contrarreforma, que pretendia educar e moralizar os fiéis para que eles não se afastassem dos valores católicos. Desse modo, o Barroco passou a ser considerado como uma arte da Contrarreforma, justamente pelas qualidades de sua visualidade pictural, capaz de seduzir, convencer e converter o espectador. O Barroco também era empregado como uma arte catequética, que tinha o intuito de educar e de moralizar os "gentios" das colônias descobertas no século anterior. 

Os sermões de Padre Antônio Vieira são um belo exemplo dessa arte barroca dotada de uma intencionalidade cristã com o objetivo de se promover a edificação da fé por meio de uma linguagem elaborada, cultista e conceptista bem ao modo da época. O caráter cultista da linguagem barroca está no seu exercício lúdico e encantatório. Como o próprio nome indica, o cultismo é o culto à forma, ao rebuscamento, o que justifica o emprego de várias sofisticações linguísticas proporcionadas por algumas figuras de linguagem, tais como o hipérbato (que são as inversões sintáticas capazes de deixar o texto com um contorcionismo linguístico como se verifica nas estruturas espiraladas da arquitetura e da pintura), as aliterações, assonâncias e anáforas (que geram uma intensa musicalidade ao texto), a disseminação e o recolho  (que correspondem à repetição dos termos em um jogo sonoro e semântico). Entretanto, a linguagem não pode ser apenas cultista, pois senão ela não cumpre com a sua função persuasiva, será mero exercício oratório sem a capacidade retórica de envolver e seduzir. Para que isso ocorra, a linguagem  também deve ser conceptista, ou seja, explicar um conceito (uma ideia abstrata) por meio de uma imagem concreta. O conceptismo é construído, portanto, através de analogias, de comparações e de metáforas.

Um dos mais conhecidos e belos textos de Vieira é o Sermão da Sexagésima, pregado na Capela Real, em 1655, não para os homens comuns, mas para os próprios sermonistas. Neste texto, Vieira acusa os religiosos de não estarem mais convertendo ou sensibilizando os fiéis devido aos excessos cultistas dos sermões que estavam produzindo. Os sermões estavam retratando vários assuntos, com uma linguagem muito rebuscada, destinada ao público erudito, empregada apenas para os pregadores se promoverem, alimentarem o ego e a própria vaidade. Pregavam para si e não para os outros, acusa Vieira. 

Além do Padre Antônio Vieira, o outro grande nome do Barroco em língua portuguesa é o de Gregório de Matos, conhecido como Boca do Inferno.
A poesia de Gregório de Matos pode ser dividida em três grupos, a sacra, a amorosa e a satírica. Mas em todos eles é nítida a linguagem lúdica do poema, repleta de trocadilhos, ambiguidades, metáforas e antíteses, nem ao gosto do estilo barroco. Sua poesia consagrou-se pela riqueza típica dos sentimentos religiosos. 
Segundo o raciocínio barroco, cabe ao homem pecar e a Deus perdoá-lo pelos erros cometidos. Os vícios humanos são, assim, compensados com a benignidade divina. 
A poética amorosa de Gregório de Matos é marcada pela concepção mundana, carnal e efêmera da vida e dos relacionamentos amorosos. O carpe diem se faz constante em sua lírica, evidenciando na voz do eu poético que clama à amada pelo gozo físico, tendo em vista a fugacidade da existência.
A lírica filosófica  destacam-se textos que se referem ao desconcerto do mundo e às funções humanas.
A lírica religiosa obedece aos princípios fundamentais do Barroco europeu, fazendo uso de temas como amor a Deus, a culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão, além de constantes referências bíblicas. 
Em alguns de seus poemas satíricos, a linguagem de Gregório de Matos aparece repleta de termos chulos. Boca do Inferno não se priva ou mesmo se sente censurado diante de tal autoridade. Pelo contrário, a sátira é o mecanismo pelo qual o poeta contesta e reivindica livremente todas as perseguições que sofria.

Barroco na arte: (principais) 
Caravaggio
Bernini
Aleijadinho
Manuel da Costa Ataíde

terça-feira, 7 de julho de 2015

Escolas Literárias - Quinhentismo (1500 - 1601)

O Quinhentismo é o período em que surgem as primeiras realizações artísticas sobre os territórios descobertos pelo expansionismo marítimo. No caso do Quinhentismo associado ao Brasil, foi significativa a produção de duas manifestações literárias: as crônicas de viagem, que também recebem o nome de literatura informativa e a literatura dos jesuítas.

"Descobrimento" - Cândido Portinari
A literatura informativa constitui-se dos relatos dos viajantes, que descreviam as novas terras avistadas e conquistadas, além de relatar as características físicas e comportamentais dos povos que nelas se encontravam. Era comum, portanto, que nas expedições marítimas estivesse presente a figura de um cronista a serviço do rei para, minuciosamente, traçar um panorama dos novos territórios encontrados. No caso da história portuguesa e brasileira, a Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil foi o relato mais significativo. Tal missiva sobre o novo território descoberto é considerado o marco da literatura brasileira. Todavia, merece a ressalva de que ainda é uma literatura sobre o Brasil, e não uma literatura nacional.

Os textos de Padre Anchieta constituem-se de cartas (nas quais descreve os costumes dos índios), poemas religiosos (compostos em versos curtos, ainda dentro do gosto medieval) e peças teatrais (geralmente autos por meio dos quais o jesuíta manifestava a sua pregação via literatura). Gradativamente, o jesuíta acrescentava ao tupi e às entidades religiosas indígenas, com os quais estruturava sua peça, vocábulos do português e demonstração da fé cristã.

Primeira Missa
Padre José de Anchieta
"Desembarque de Pedro Álvares Cabral" - Oscar Pereira da Silva