quarta-feira, 8 de julho de 2015

Escolas Literárias - Barroco (1601 - 1768)

"A palavra barroco adquiriu valor pejorativo nos meios humanistas da Renascença, que delas se serviam para se referirem desdenhosamente aos lógicos escolásticos e aos seus argumentos e raciocínios, considerando-os absurdos e ridículos. Um argumento in baroco, por conseguinte, significava um argumento falso e tortuoso e, segundo Croce, a expressão teria sido transferida para o domínio das artes, para designar um estilo que aparecia também como falso e ridículo." SILVA, Vítor Manuel de Aguiar.

Também conhecida como Seiscentismo, o Barroco permaneceu durante séculos atrelada à concepção pejorativa de uma arte irregular, afetada, repleta de ornamentos abusivos que comprometiam a sobriedade e a linearidade das formas plásticas e da clareza linguística. O Barroco veio "deturpar"a sobriedade, a geometrização e a precisão da arte renascentista, segundo a visão estética profundamente iluminista do século XVIII.

Renascimento:                                                     
"Passo do Hordo" - Aleijadinho
  • Linear
  • Plano
  • Forma fechada
  • Pluralidade
  • Clareza
Barroco: 
  • Pictórico
  • Profundo
  • Forma aberta
  • Unidade
  • Obscuridade
"A virgem do rosário" - Caravaggio

A oposição estilo linear x pictórico é percebida facilmente ao se contrapor uma tela renascentista a uma barroca. A primeira apresenta linhas, contornos para as figuras; já a segunda elimina as linhas e demonstra o espaço por meio da oposição claro-escuro das figuras. Isso contribui também para a segunda categoria apresentada, pois os quadros da Renascença empregam tons mais pastéis, uma palheta mais eufemista na elaboração de planos mais claros, horizontais e chapados; já os do Barroco são dotados de uma profundidade, sugerem com maior intensidade uma perspectiva por meio de cores mais intensas e do contraste da luz. O Barroco transborda o espaço da tela, extravasa a cena com diagonais que apontam para fora do que foi apresentado, o que leva o espectador a vislumbrar o que não foi pintado. Na tela renascentista, é possível separar uma figura das demais, o que é inviável no trabalho barroco, tendo em vista a multiplicidade e interação de planos. Quanto ao item claridade absoluta x claridade relativa, é fácil notá-lo na luz igualmente distribuída em uma tela renascentista e na luminosidade parcialmente representada para cada plano ou compartimento da obra barroca.

A proximidade do Barroco com a religiosidade medieval explica-se pelo fato de que a Igreja, consciente da perda de muitos de seus fiéis com a Reforma Protestante de Lutero, desejava recuperar e resguardar seu "império". Dessa forma, as artes, tanto a literatura quanto a pintura, tornaram-se o grande foco da Contrarreforma, que pretendia educar e moralizar os fiéis para que eles não se afastassem dos valores católicos. Desse modo, o Barroco passou a ser considerado como uma arte da Contrarreforma, justamente pelas qualidades de sua visualidade pictural, capaz de seduzir, convencer e converter o espectador. O Barroco também era empregado como uma arte catequética, que tinha o intuito de educar e de moralizar os "gentios" das colônias descobertas no século anterior. 

Os sermões de Padre Antônio Vieira são um belo exemplo dessa arte barroca dotada de uma intencionalidade cristã com o objetivo de se promover a edificação da fé por meio de uma linguagem elaborada, cultista e conceptista bem ao modo da época. O caráter cultista da linguagem barroca está no seu exercício lúdico e encantatório. Como o próprio nome indica, o cultismo é o culto à forma, ao rebuscamento, o que justifica o emprego de várias sofisticações linguísticas proporcionadas por algumas figuras de linguagem, tais como o hipérbato (que são as inversões sintáticas capazes de deixar o texto com um contorcionismo linguístico como se verifica nas estruturas espiraladas da arquitetura e da pintura), as aliterações, assonâncias e anáforas (que geram uma intensa musicalidade ao texto), a disseminação e o recolho  (que correspondem à repetição dos termos em um jogo sonoro e semântico). Entretanto, a linguagem não pode ser apenas cultista, pois senão ela não cumpre com a sua função persuasiva, será mero exercício oratório sem a capacidade retórica de envolver e seduzir. Para que isso ocorra, a linguagem  também deve ser conceptista, ou seja, explicar um conceito (uma ideia abstrata) por meio de uma imagem concreta. O conceptismo é construído, portanto, através de analogias, de comparações e de metáforas.

Um dos mais conhecidos e belos textos de Vieira é o Sermão da Sexagésima, pregado na Capela Real, em 1655, não para os homens comuns, mas para os próprios sermonistas. Neste texto, Vieira acusa os religiosos de não estarem mais convertendo ou sensibilizando os fiéis devido aos excessos cultistas dos sermões que estavam produzindo. Os sermões estavam retratando vários assuntos, com uma linguagem muito rebuscada, destinada ao público erudito, empregada apenas para os pregadores se promoverem, alimentarem o ego e a própria vaidade. Pregavam para si e não para os outros, acusa Vieira. 

Além do Padre Antônio Vieira, o outro grande nome do Barroco em língua portuguesa é o de Gregório de Matos, conhecido como Boca do Inferno.
A poesia de Gregório de Matos pode ser dividida em três grupos, a sacra, a amorosa e a satírica. Mas em todos eles é nítida a linguagem lúdica do poema, repleta de trocadilhos, ambiguidades, metáforas e antíteses, nem ao gosto do estilo barroco. Sua poesia consagrou-se pela riqueza típica dos sentimentos religiosos. 
Segundo o raciocínio barroco, cabe ao homem pecar e a Deus perdoá-lo pelos erros cometidos. Os vícios humanos são, assim, compensados com a benignidade divina. 
A poética amorosa de Gregório de Matos é marcada pela concepção mundana, carnal e efêmera da vida e dos relacionamentos amorosos. O carpe diem se faz constante em sua lírica, evidenciando na voz do eu poético que clama à amada pelo gozo físico, tendo em vista a fugacidade da existência.
A lírica filosófica  destacam-se textos que se referem ao desconcerto do mundo e às funções humanas.
A lírica religiosa obedece aos princípios fundamentais do Barroco europeu, fazendo uso de temas como amor a Deus, a culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão, além de constantes referências bíblicas. 
Em alguns de seus poemas satíricos, a linguagem de Gregório de Matos aparece repleta de termos chulos. Boca do Inferno não se priva ou mesmo se sente censurado diante de tal autoridade. Pelo contrário, a sátira é o mecanismo pelo qual o poeta contesta e reivindica livremente todas as perseguições que sofria.

Barroco na arte: (principais) 
Caravaggio
Bernini
Aleijadinho
Manuel da Costa Ataíde

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