A história nos mostra como a religião, ou a manifestação desta, se tornou um dos pilares que guiaram a humanidade. Exemplo disso, foi a imposição de uma cultura eurocêntrica na América durante o período da colonização, expandindo o catolicismo pelo mundo; ou mesmo os conflitos religiosos na Europa no final do século XX que resultou na formação da Irlanda e Irlanda do Norte. Não muito diferente, o Brasil que, por longos anos, adotou uma única religião, reprendeu a prática de diferentes atos de fé contrários ao que era oficializado e, na sua atual conjuntura, anos após a laicização do Estado, o país é palco de inúmeras práticas de intolerância religiosa. Desse modo, faz-se necessário averiguar os motivos que alimentam tais atos e a elaboração de medidas capazes de combater essa realidade que persiste no Brasil.
Pode-se citar, inicialmente, a concepção de superioridade étnico-religiosa que marcou o período de colonização e imperialismo pelo mundo. Essa ideologia foi responsável pela negação da cultura e dos costumes do povos conquistados, gerando uma desvalorização de toda a formação de sua identidade. Diante disso, é possível afirmar que resquícios desses pensamentos perpetuam até hoje no Brasil, principalmente com as religiões de matriz africana. Tal fato mostra que a repressão que esses povos sofreram desde o início da escravidão ainda se encontra presente, mesmo após séculos de luta e resistência, no entanto, assume hoje uma característica velada.
Outro fator que endossa essa realidade pode ser manifestada com a aversão à diversidade religiosa. Essa prática é responsável pela perpetuação de estereótipos negativos de correntes religiosas, sendo inclusive um dos fatores que levou à perseguição e morte de judeus e testemunhas de Jeová pelos regimes totalitários na Europa na metade do século XX. Além disso, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos diz que é necessário uma igualdade que reconheça as diferenças e uma diversidade que não alimente ou fortaleças as desigualdades. Diante disso, seria possível que a liberdade de culto religioso no Brasil fosse assegurado, uma vez que a Constituição garantes esse direito, embora, na realidade, apresente dificuldades sobre o exercícios daqueles afetados pela lei.
Essa triste realidade evidencia, portanto, que medidas cabíveis são necessárias para amenizar a situação. Segundo Kant, as mudanças só se tornam efetivas com a participação da sociedade em um processo lento e gradual. Dessa maneira, a formação de associações de bairros em parceria com sociólogos e acadêmicos de História e Geografia são fundamentais para a orientação da população e identificação de casos de intolerância religiosa e o encaminhamento destes para agentes especializados em apurar e julgar tais práticas. Além disso, a ampliação do ensino que valorize o sincretismo religioso nas escolas, universidades e centro de fiéis é imprescindível para que durante esse processo de formação e perpetuação do respeito seja alcançado de maneira universal e civilizada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário